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Vitória Diniz. Tecnologia do Blogger.

O infinito e a vida

A caracterização corporal do indivíduo é um elemento muito claro do distúrbio, porém, a anorexia nervosa vai além de corpos excessivamente magros. Desse modo, é essencial discutir as implicações de tal transtorno pelos diversos ângulos que afetam seus portadores. 

Para rigor de definição diagnóstica, o Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais edição 5  (DSM V) aponta três características principais do distúrbio. Nesse sentido, são sintetizadas por uma persistente restrição da ingestão calórica, um medo intenso de ganhar peso ou engordar (que leva a comportamentos que interferem no ganho de peso) e uma distorção da percepção do seu próprio peso ou forma corporal, em que o indivíduo "mantém um peso corporal abaixo daquele minimamente normal para idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física". Com base nessa definição podemos fazer algumas interpretações: como o indivíduo sofre um déficit de ingestão calórica, não é apenas peso que ele irá perder, sua "reserva" nutricional será afetada impactando a concentração de vitaminas e nutrientes essenciais para o bom funcionamento físico, mental e manutenção da homeostase, além de envolver uma grande e significativa redução da massa magra (músculos, ossos, órgãos e líquidos corporais).

No meu caso específico, como pessoa diagnosticada com anorexia nervosa, além dos efeitos clássicos de redução da massa corporal, o transtorno alimentar levou a um quadro clínico neurológico denominado ataxia sensitiva devido uma grave deficiência de vitaminas do complexo B (principalmente B12) e ácido fólico. Essa doença afeta a propriocepção que é basicamente "a capacidade inconsciente de sentir o movimento e a posição das articulações no espaço pelo sistema nervoso central, sem usar outros sentidos", ou seja, afetou o meu equilíbrio e capacidade de locomoção. 

Em mim, a ataxia sensitiva começou de forma muito discreta: pela perda da sensibilidade dos meus dedos do pé (exatamente, eu não sentia eles), era como uma dormência constante. Quando iniciou, eu havia acabado de começar a fazer aula de dança e não entendia porque tinha tanta dificuldade para fazer os movimentos, sempre tive facilidade e desenvoltura, então, devido ao risco de queda tive que sair das aulas. Com o tempo, isso se propagou para o meus pés e mãos (membros periféricos), minha sandália saia do pé e eu não sentia (perdia ela constantemente pela casa), sem equilíbrio para andar eu me movia em casa segurando nas paredes, subir ou descer escadas era um imenso desfio (mesmo segurando o corrimão eu não conseguia, precisava do auxílio de outra pessoa), ao fechar os olhos eu perdia totalmente o equilíbrio e caía (tanto é que tomava banho sentada), perdi a força nas mãos (não conseguia abrir garrafas) e não conseguia escrever bem (a caligrafia saía ilegível), até que chegou ao ponto de não conseguir sair de casa sem o apoio de outra pessoa, perdi totalmente a independência. Se afetou a parte neurológica, a parte química cerebral também sofreu, levando a uma intensificação da dor psíquica: tudo isso me abalou bastante e um quadro depressivo persistente me acompanhou.

A anorexia levou a ataxia sensitiva que, por sua vez, intensificou a anorexia em um ciclo vicioso de martírio: devido ao impacto no equilíbrio e mobilidade eu não conseguia fazer atividade física, e na minha cabeça pensava que se eu comesse iria engordar e se engordasse iria ficar mais feia, assim, comia o mínimo possível. Acredito que tenha ficado claro quão grave é esse distúrbio e com ele pode limitar a vida, mas, se não ficou, chamo a atenção para um dado do Dr. Dráuzio Varela: a anorexia nervosa pode ser letal, uma taxa de 15% a 20% dos indivíduos com esse distúrbio acabam falecendo.  

Aquela metáfora do indivíduo magro se ver "gordo" no espelho é real. Mesmo minhas roupas estando extremamente folgadas e o meu peso baixo, eu não estava satisfeita com o meu corpo. Sempre me olhava achando "gorduras". Comer é um ato que remete culpa e quando eu achava que comia muito, compensava não comendo nada no dia seguinte ou tentando vomitar. Desmaios eram frequentes, já cheguei até a desmaiar no banho (olha o perigo!) sorte que ao sentir isso eu chamei a minha mãe que chegou no exato momento em que perdi a consciência. Ia frequentemente ao hospital tomar soro. Ademais, minhas unhas constantemente quebradiças, cabelos caindo e imunidade baixa são reflexo do transtorno alimentar.

Atualmente minha alimentação caminha para uma estabilidade e ganhei uns 7kg de massa magra. Com o apoio de uma equipe multidisciplinar (psiquiatra, psicólogo, nutricionista, fisioterapeutas e outros profissionais) e de pessoas próximas como amigos, família, professores, orientadora e o coordenador do meu curso, eu consegui evoluir bastante tanto é que parei de usar a bengala há pouco mais de uma semana e voltei a dançar. Contudo, não consigo ainda afirmar uma cura, há dias e dias, em alguns é mais fácil e em outros nem tanto. E sim, comer me remete culpa e um sentimento de traição a Ana (anorexia nervosa), mas estou tentando.

A imagem à esquerda representa o "auge" da anorexia e à direita sou eu atualmente (ambas com a mesma roupa).


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Como falar de algo assim? Algo ao mesmo tempo tão pesado, delicado, coletivo e pessoal.

Tive uma overdose na semana Santa, fiquei de quinta-feira a sábado no hospital e acho importante falar sobre isso como forma de alertar: não façam isso. Se não for fatal (e as chances são altas) será uma experiência no mínimo péssima, recheada de consequências temporárias, se tiver sorte, ou permanentes que são extremamente exaustivas, frustrantes e dolorosas. Por isso, antes de começar efetivamente esse relato, eu peço (ou melhor, imploro): não me julguem, condenem ou ataquem, apenas leiam de coração e mente aberta.

Não posso falar que um motivo ou gatilho específico me levou a ingerir os 57 comprimidos, de todo modo, o foco principal desse texto não é dissertar sobre tais motivações, mas sim as consequências desse ato, a experiência no todo.

Ao chegar no hospital de ambulância fui levada a uma sala onde realizaram o procedimento mais imediato de lavagem estomacal e a testagem de COVID-19. Sobre esse primeiro mecanismo, introduziram uma sonda em mim (espécie de tubo transparente que lembra uma mangueira) pelo nariz até o estômago. Em primeiro lugar, foi muito desconfortável e doloroso, até chegar no seu destino final, o tubo feriu bastante o meu nariz e a garganta (principalmente ela), saiu sangue e vomitei quando chegou nessa parte do meu corpo. Eles injetam e puxam um líquido pela sonda, mas não lembro de muitos detalhes, apenas que  senti um incômodo na garganta por dias.

Após o procedimento inicial me levaram para o leito, os enfermeiros que estavam de plantão ali foram bem legais e atenciosos  comigo. Nesse momento já tinham começados os efeitos do excesso de medicações que o meu corpo absorveu. Além de uma certa sonolência primária, estava muito tonta, enjoada, confusa mentalmente, não conseguia andar bem (tinha perdido totalmente o equilíbrio), comecei a ter alucinações visuais (as paredes eram brancas mas eu via uma espécie de mofo preto em todo lugar, além de uns pontinhos coloridos que assumiam formatos e aranhas voando) e o pior: não conseguia ler nem identificar nenhuma letra, as palavras apareciam todas borradas para mim. Tudo isso me assustou bastante, nesse momento já tinha batido o arrependimento e eu me questionava (até cheguei a perguntar para um dos enfermeiros, o mais simpático) se iria morrer, só para terem noção de quão intensos foram tais efeitos, porém, o pior ainda estava por vir. 

Acordei sexta-feira um pouco confusa e desorientada, sentindo muita dor nos lábios e na língua. Eu me encontrava no setor de emergência, olhei ao meu redor e vi que estava conectada a vários equipamentos, além de estar com uma máscara de oxigênio. Um enfermeiro me situou do que tinha ocorrido: tive uma crise convulsiva enquanto dormia, uma bem feia nas palavras dele, tanto que até fiz xixi enquanto ela ocorria o que explicava o fato de eu estar de fralda e sem as roupas de baixo (detalhe constrangedor) e mais tarde (depois de receber alta) olhando os exames vi que tive uma taquicardia sinusal, ou seja, foi bem grave.

No final da manhã de sexta-feira eu voltei para o leito (estando de jejum desde o momento em que cheguei na UPA na quinta-feira) e me informaram que eu estava aguardando uma vaga para ser transferida ao hospital. Nesse momento os enfermeiros já eram outros (havia acabado o plantão dos que me acompanharam na noite anterior) e senti um tratamento bem insensível e muitas vezes indelicado da parte deles chegando a fazer comentários (de crítica e julgamento) sobre o meu caso na minha frente, como se eu não estivesse lá e ignorando as minhas tentativas de explicação ou defesa. Concluí que muitos profissionais da área da saúde não estão preparados para lidar com casos delicados e graves de saúde mental, como uma tentativa de suicídio, falta em muitos empatia e a capacidade de acolher pois tais atitudes fizeram com que eu me sentisse mais mal. Não que eu esperasse que as pessoas passassem a mão na minha cabeça e aceitassem tudo isso sem nenhum conflito, sei que o que eu fiz não foi correto (principalmente com os meus amigos, familiares e comigo mesma) e nem é a melhor solução, porém, eu me encontrava física e emocionalmente vulnerável. Em situações assim, faz muita diferença mostrar que estão ao nosso lado nessa luta, que se importam e principalmente que somos importantes, porque eu já carrego o sentimento provavelmente disfuncional de que sou um problema ou peso na vida das pessoas e quando se afastam ou agem como esses enfermeiros, de certa forma fortalece esse pensamento, confirma e aumenta essa dor.

Consegui a transferência para o hospital na noite de sexta-feira, fui de ambulância para lá e um moço muito legal que até fez uma corridinha divertida enquanto me levava na cadeira de rodas (sim, tive que usa-la pois não conseguia andar) nos acompanhou no início. No hospital fiz vários exames (onde foram identificados alguns danos e pontos de atenção no meus rins e fígado), passei por uma consulta com o psiquiatra e na manhã de sábado recebi alta. Todavia, alguns efeitos da overdose se estenderam por mais uns dias (como a confusão mental, tontura, falta de equilíbrio e dificuldade para caminhar além das alucinações que se tornaram mais pesadas). 

De lá fiquei alguns dias na casa da minha tia me recuperando (até segunda-feira de tarde, quando voltei para a minha república). Durante esse período, as alucinações e paranoias se intensificaram e foram experimentadas por mim em três sentidos: visual, auditiva e sensorial. Cheguei a ver além dos pontos e aranhas, pessoas que não estavam lá e a ouvi-las e senti-las me tocando. Foi bem assustador porque essas alucinações não foram amigáveis, mas sim intimidadoras, resumidamente uma experiência totalmente horrível, amenizada conforme o excesso de medicamentos saíam do meu organismo e também pela administração de novas medicações psiquiátricas do grupo de antipsicóticos, bem como antidepressivos. 

Ademais, na segunda-feira do dia 18 (meu aniversário), tive uma consulta com o psiquiatra previamente agendada, acompanhada pela minha tia onde veio um novo diagnóstico (anorexia nervosa) e a hipótese diagnóstica (a qual ainda precisa ser investigada detalhadamente) que pode explicar a minha instabilidade emocional, as coisas que sinto e como reajo a elas. Segundo o meu psiquiatra, o que tenho não é apenas um transtorno de humor (como depressão e bipolaridade), mas sim um transtorno de personalidade e tudo aponta para o Transtorno de Personalidade Borderline (realmente, estudando mais a fundo por materiais técnicos, como livros e artigos científicos, essa hipótese diagnóstica faz muito sentido).

Sigo, por fim, nessa caminhada e luta contínua para continuar bem e entender o que acontece comigo. Desde essa última crise estaria mentindo se falasse que estou totalmente bem, porém, com o ajuste da medicação sigo em direção a uma estabilidade psíquica e emocional. Todavia, como tudo na vida há dias mais fáceis e outros em que a batalha parece estar totalmente perdida e o controle escorre pelos meus dedos, o mais importante é que estou tentando e principalmente: quero viver. 


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Vive-se no cenário atual uma emergente crise climática, cujo ônus não é dividido de forma democrática. A população pobre encontra-se em estado de vulnerabilidade sujeita a maiores riscos e incertezas. Nesse sentido, é necessário se pensar no espaço urbano como elemento por onde se mediam e são consumadas essas desigualdades, para que desta forma, medidas adaptativas sejam tomadas com o foco em reduzir as vulnerabilidades as quais estão expostos os indivíduos menos abastados. Assim, para alcançar tal objetivo, torna-se necessária a atenção dos governos locais quanto a problemática das mudanças climáticas.

A ocorrência de eventos climáticos extremos cada vez mais comuns, chamam a atenção para a importância de reestruturar não só o sistema de consumo que degrada, explora e reduz os recursos naturais, mas também como as populações administram e estruturam os seus espaços. Seguindo esse raciocínio, Lemos no artigo "Planejamento urbano para enfrentamento de riscos ambientais, redução de vulnerabilidade socio-climáticas e adaptação de cidades", afirma que os elementos que compõem a sociedade contemporânea, juntamente com a crise socioambiental exigem a reformulação do planejamento e projeto urbano, definindo e dando atenção as prioridades: populações mais vulneráveis. Aqui, cabe a importância de se definir a palavra vulnerabilidade, a qual se refere a capacidade de resiliência de populações e sistemas em frente a perturbações e crises, ou seja, pessoas vulneráveis são aquelas que convivem com a insegurança de não terem recursos adaptativos que proporcionem a plena recuperação diante de tais choques, de acordo com a obra "Uma revisão crítica sobre cidades e mudança climática: vinho velho em garrafa nova ou um novo paradigma de ação para a governança local?" de Martins. São justamente os indivíduos com menores condições financeiras que estão mais vulneráveis as consequências da crise climática por morarem e circularem em ambientes insalubres, muitas vezes por não terem outra opção.

Ademais, ao se falar de medidas adaptativas no espaço urbano, é imprescindível mencionar e relacionar o papel dos governos locais na gestão eficiente da infraestrutura e dos serviços públicos de bem-estar. Em relação a isso, Martins (na obra citada acima) ressalta o poder desses agentes públicos em mitigar desde a emissão de gases do efeito estufa (GEE) até a vulnerabilidade da sua população. O autor continua seu pensamento chamando a atenção a necessidade de sensibilidade governamental aos cidadãos que vivem sob maior risco (abrangendo não apenas os que moram em locais com risco ambiental, mas também os que se encontram em situação de rua, pois a vulnerabilidade urbana brasileira possui vários contornos). Assim, governos locais por estarem mais próximos de onde ocorrem e ocorrerão os impactos das mudanças climáticas são de extrema importância na implementação de políticas relativas a essa questão que visem a adaptação e mitigação.

Destarte, uma abordagem multidisciplinar focada na redução das vulnerabilidades com o apoio dos governos locais e vários outros atores (como a própria população) são fundamentais para criação de políticas públicas que proporcionem resiliência frente as crises e riscos que acompanham as mudanças climáticas. Quiçá, a infraestrutura urbana e consequentemente a sociedade, irá adquirir maior resistência quanto ao enfrentamento das crises, riscos e vulnerabilidades que assolam e limitam países como o Brasil.
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Glossário (dicionário) de termos: 
Destarte: assim, desta forma.
Ademais: além disso.
Abastados: ricos.
Mitigação: aliviar, reduzir, diminuir.
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HEMATOMAS

No chão da sala jaz um corpo inerte, sem vida. Perto dele há um rastro vermelho vindo do quarto, todo o percurso no qual se rastejou em fuga pedindo que sua vida fosse poupada. Acompanhei o primeiro golpe, seguido imediatamente por um grito implorando clemência. Com covardia não consegui encarar o desespero impresso nas faces daquela criatura. Imóvel assisti a todo o massacre me questionando se naquele momento eu era vítima ou cúmplice.  
Por mais contraditório que possa parecer, não foi o último golpe que o matou. Sua morte foi lenta e dolorosa: hematoma após hematoma o ser ficava mais fraco, até o ponto em que as lesões eram tantas, os ferimentos infeccionados ardiam e a pele arroxeada passou a ser corriqueira. Nesse estágio, qualquer outra facada não faria diferença, não havia mais um desejo pela vida. Julgo dizer que o primeiro golpe foi o mais doloroso (com ele vieram mentiras e indiferença culminando em falta de confiança), nunca esperou uma atitude daquela, não das pessoas (nós) que o tratavam com tamanho carinho.
Com as mãos tingidas de vermelho o assassino olhou satisfeito em minha direção, parecia não entender a gravidade dos seus atos, de quão letais eles eram. Por alguns segundos tomei como minha a culpa por isso, mas não era, em vários momentos tentei alertá-lo, chamar sua atenção, foi então que percebi: insistir não fazia diferença. Rendi-me, apavorada de braços cruzados, a essa realidade com coragem suficiente para ver, mas faltante ao ficar paralisada quando senti vontade de estar ao lado do organismo, lhe confortando, no fatídico instante que tossindo sangue deixou a vida. 
Aproximei-me dele e com um delicado toque horizontal sobre a pele fria, fechei definitivamente as pálpebras, suas funções vitais já haviam cessado e com elas partiram todos os bons sentimentos que antes tinha pelo assassino. De olhos arregalados contemplo o cadáver do nosso amor.
Autora: Vitória Souza Diniz (eu).

EXPLICAÇÃO:

O conto aborda, por meio de elementos metafóricos, a morte de um sentimento. O amor romântico, representado pelo ser que sofre as agressões, é assassinado por atitudes descritas, tais como mentiras, indiferença e falta de confiança, elementos por si só significativos para a destruição de um relacionamento. O eu lírico (quem narra a história), aqui simbolizado pela perspectiva feminina, não exclui o fato de também ter contribuído para o ocorrido (principalmente no momento em que afirma não saber se ocupa a posição de vítima ou cúmplice), porém, deixa claro que tentou alertar o assassino sobre os seus atos e, por fim, evidencia que sozinha não conseguiria salvar a criatura (que, no caso, representa o amor) e só restou a ela assistir toda aquela violência, pois relacionamentos (especialmente românticos) não são vias de mão única, dependem da dedicação de ambos os envolvidos.
*A cópia ou reprodução não autorizada ou referenciada de qualquer elemento do conto é plágio e consequentemente se configura como crime.





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Blusas de manga comprida, luvas, faixas, ataduras. Eu simplesmente cansei de me esconder atrás de todos esses panos. O que me manteve calada até agora foi principalmente o medo do julgamento dos outros, de passar a ser vista de outra forma pelas pessoas que me admiram, de ser uma derrota (antônimo de Vitória). Porém, continuo  sendo a Vitória que vocês conhecem, exceto por um detalhe: eu me machuco. 

Pratico a autolesão porque sinto a necessidade de me punir por qualquer erro cometido. Tenho dificuldade em lidar com frustrações (estou trabalhando isso na psicoterapia), carrego a vida inteira o fardo de querer ser perfeita, talvez porque assim seria mais fácil as pessoas gostarem de mim. Mas, como todo mortal, não sou perfeita, sei disso.

Desde a infância  percebi que causar lesões no meu corpo alivia a dor emocional que tanto me tortura.  Então eu me batia, arranhava, beliscava, até que evoluiu para cortes. Só descobri que o que eu sofria tinha um nome em 2018, quando iniciei a psicoterapia, até então eu não me "percebia doente".

A notícia boa é que eu não me corto desde o início do ano. Isso significa que a psicoterapia e a medicação me ajudaram a estabilizar esse quadro. Porém, depois desses quase 4 anos de psicoterapia e tendo convivido  com o TOC e a depressão por mais de 10  anos, sei que a todo momento estou suscetível a crises. Não é um olhar pessimista, meu quadro depressivo faz parte da minha personalidade, não tem cura. Mas existe tratamento e o que cabe a mim é insistir nele para aprender a lidar com as minhas crises de modo a reduzir o risco de suicídio.

A autolesão não suicida, também chamada de automutilação é um sintoma de que o indivíduo não está bem. Quando acontece em conjunto com outros comportamentos  e sinais, pode indicar a existência de um transtorno mental. De acordo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais edição 5 (DSM V) "a característica essencial é o comportamento repetido do próprio indivíduo de infligir lesões superficiais, embora dolorosas, a superfície do seu corpo. Em geral o propósito é reduzir emoções negativas como tensão, ansiedade e autocensura, e/ou resolver uma dificuldade interpessoal". Sabendo disso, volto a dizer: caso tenha se identificado com o meu depoimento, procure ajuda profissional, não faça autodiagnostico!

Por fim, só queria deixar registrado aqui um agradecimento a todos que permaneceram ao meu lado até aqui e que junto comigo compraram essa briga. Especialmente a minha mãe que desde o ano passado parou de trabalhar para cuidar de mim (devido o alto risco de suicídio) e a todos os profissionais que usaram o seu conhecimento apenas para garantir que eu continuaria viva, principalmente ao Sávio, psicólogo que há 4 anos me ajuda a entender todo o meu caos interno, e não desiste de me fazer acreditar que mereço viver. Obrigada!




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Segundo o dicionário Aurélio, morte significa a "interrupção definitiva da vida de um organismo".

Todos os dias vemos nos noticiários de forma veemente a quantidade de vidas perdidas pelo corona vírus, números vazios e muitas vezes distantes. Mas, concretamente o que ela significa? O que seria morrer? como a morte é representada?

Na literatura e narrativas audiovisuais é representada por uma figura cadavérica com roupas pretas e uma foice. Cada detalhe da personificação demostra nas suas entrelinhas como nós, seres mortais, encaramos essa pequena palavra: com medo. Medo do vazio, das incertezas, de abandonar tudo e todos que conhecemos.

Contudo, para as famílias das milhares de pessoas que estão partindo diariamente, a morte é a ausência de um sorriso, um abraço perdido, uma cadeira vazia e o cessar da alegria. É a certeza de que jamais poderá ver ou tocar a pessoa, ouvir suas piadas ou as palavras chulas que tanto repetia, degustar um "cadim" do seu bolo, ter o seu consolo. Agora é um olhar distante de uma terra grande que já foi seu lar. 

  




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O Prêmio Sesc de literatura é um concurso literário que revela autores inéditos. Dividido em duas categorias (conto e romance), dois livros são premiados, os quais são distribuídos por uma editora conceituada e de grande porte: a Record. Dessa forma, o concurso insere os autores no mercado editorial e proporciona uma renovação no cenário nacional literário. 

Sinopse do livro:
"O doce e o amargo aborda temas tabus, tratados com delicadeza. A qualidade dos contos é vista em todas as frases, construídas de forma natural, mas criando poderosos efeitos. Os diálogos são ágeis e precisos. Há constantes reflexões percorrendo o texto, que nos atraem para o interior da narrativa e dos personagens, mantendo um tom ao mesmo tempo violento e suave.
O tema é universal: a morte e seus correlatos, em contraposição a um tênue amor. Há excelentes metáforas, e o texto evita bravamente qualquer lugar-comum. As conexões criam uma linha narrativa que não se rompe; a coerência interior é tal que torna o livro, em cada conto e como um todo, uma trama indissolúvel, mesmo que atravessada por extremos: o pesado e o leve, o onírico e o real, o doce e o amargo".




Entrevista

Quem é o João Gabriel?
"Eu sou eu, aquilo que leio e o que está no livro, ao mesmo tempo que eu também não sou aquelas coisas. O que há de mim nesse livro é metade referência e metade coração, ele é uma síntese bastante sugestiva sobre o que sou, sobre o que penso. O livro é amargo demais, muito mais do que doce". 
No mais o João, como um jovem normal, afirma gostar de esportes, de sair, prefere o dia muito mais do que à noite, além de morar em Juiz de fora.

E quanto ao livro, você já vinha escrevendo para o concurso ou surgiu a oportunidade e se inscreveu?
"Eu não tinha a pretensão de publicar um livro, uma colega falou que iria participar do prêmio e me sugeriu. Tinha uns arquivos no drive. Coloquei os contos que considerava melhores. Seis meses depois eu recebi a ligação, estava na universidade. Esse livro foi um acidente, não um projeto e isso explica algumas deficiências dele".

O que a escrita representa para você?
"Hoje em dia representa uma forma de sofrimento, porque antigamente era uma forma de elaborar o sofrimento, então era uma atividade muito espontânea e muito orientada pela paixão do momento. Era uma forma de projetar no meio externo os problemas do meio interno. Entra um fator que não existia antes: a exposição pública da obra, então isso acaba um pouco corrompendo a liberdade do fazer literário que eu acho o mais importante. Diante da página em branco a gente deveria estar sozinho. E estou aqui tentando recuperar a inocência pré-publicação. É uma noção que vai se modificando aos poucos. Como jovem eu tenho a tendência a acreditar que a escrita é uma forma de desafogar, por outro lado também é uma forma de criar beleza. É sempre um exercício de liberdade, de beleza, de desafogo". Por fim, cita Camus ao afirmar que o romance tem a cara do destino.

Algum dos contos foi baseado nas suas experiências?
"Muito do que está lá é um reflexo do que eu vivo. A literatura é o sinal de que existe vida ali. Factualmente quase nada ali diz respeito ao que eu já passei, mas em termo de vivência emocional de amadurecimento existencial. Acho que é um livro que fala muito sobre o que sou".

Qual dos contos mais te representa ou te toca?
"O que eu acho mais bonito é o segundo, na verdade ele é o mais importante do livro 'Ódio ou pais e filhos'. A ideia de amadurecimento se encontra em sua expressão máxima ali. Ele é o mais importante porque é sobre isso que o livro trata, sobre essa incerteza em relação a vida e sobre a necessidade de encontrar um suporte que é impossível. O rito de passagem é algo que atravessa muitos dos contos".

Como é ser um jovem escritor no Brasil?
"Olha eu ainda não sei. Publiquei, contudo ainda não criei um nicho de contato muito grande, converso com poucas pessoas sobre isso, não acompanho a crítica que venho recebendo, eu nem sei se eu venho recebendo alguma crítica ou se venho sido lido. Acho que não sou a melhor pessoa indicada para falar como é ser escritor no Brasil".

O que mudou na sua vida após ter ganhado o prêmio?
"Acho que hoje em dia eu fico me torturando mais para escrever. De resto eu sou a mesma pessoa. O legal é que eu descobri uma cena literária, que existem muitas pessoas escrevendo no país. É importante porque você acaba se sentindo muito sozinho nesse mundo de escrita e literatura, eu amadureci muito em termo de pensamento . Ter um cuidado que nem sempre é ruim, começa a ser mais cauteloso, para quem não tem muita segurança de si mesmo acho que isso às vezes é algo prejudicial. Se você não se sente tão deslocado você consegue aproveitar bem. Amadurecimento intelectual, pois sei que tem gente muito boa e eu tenho que ralar muito para chegar ao nível deles".

Qual a sua perspectiva para o futuro? O que você planeja?
"A ideia mesmo é caminhar sem saber onde vou chegar".


Você pode adquirir a obra clicando na imagem:


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SOBRE MIM

SOBRE MIM
Sou uma pessoa tentando ser útil para a sociedade de modo a transformá-la. Vitória, 23 anos, bacharel em Gestão Ambiental pela USP, vegetariana, gym rat, calistênica iniciante e grande apreciadora da matemática, ciência, cérebro, animais, meio ambiente, livros e psicologia. Definitivamente diferente.

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