Por que devemos acreditar nas mudanças climáticas?

by - maio 15, 2020


É fato que as mudanças climáticas são uma realidade já presente no nosso dia a dia, a questão não é mais como evitar sua ocorrência, mas sim maneiras de lidar melhor com suas consequências de modo a minimizar os impactos. Ou seja, não é um evento que pode acontecer, ele já ocorre. Contudo, algo muito recorrente, na atualidade, é a postura que nega a relação do envolvimento humano como agravador da questão climática. Por esse motivo, é fundamental o contínuo debate e divulgação científica nessa área.

OS OCEANOS

Antes de apontar ou derrubar argumentos e evidências, é necessário entender o papel dos oceanos em meio a tudo isso. Eles exercem uma importante função de regulação do clima global, redistribuindo a energia que chega em excesso na região tropical e levando-a até as regiões polares onde há um déficit. Nas palavras de Ilana Wainer (professora no Departamento de Oceanografia Física do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo) é "como um ar condicionado do planeta", no que se refere a circulação de calor.

Com o derretimento das geleiras (consequência direta da alteração no clima, principalmente por elevação da temperatura) o oceano acaba sendo menos eficiente na redistribuição de calor, assim os mecanismos de circulação de água e transferência de energia térmica entre os hemisférios poderão sofrer muito com as mudanças climáticas.

TEMPERATURA

O efeito estufa é o principal mecanismo responsável pela manutenção do aquecimento do planeta. Todo esse processo funciona basicamente da seguinte forma: A atmosfera terrestre possui e é composta por vários gases (um conjunto de partículas microscópicas que se movimentam constantemente). Cuja função, de forma simplificada, é permitir a passagem de radiação solar e absorver a radiação infravermelha térmica (popularmente conhecida como calor) emitida pela Terra. Assim, o efeito estufa mantém a temperatura do planeta em cerca de 15 ºC, de modo a garantir condições adequadas para existência de vida. Pois sem ele a temperatura da Terra seria -18 ºC.

O problema é que com o aumento da emissão de gases do efeito estufa (GEE), em consequência da atividade humana, todo esse processo é intensificado. Seguindo o raciocínio físico abordado pelo site de meteorologia do IAG USP: "quanto maior for a concentração de gases, maior será o aprisionamento do calor, e consequentemente mais alta a temperatura média do globo terrestre".

Tal pensamento pode ser comprovado analisando o aumento cada vez maior de dióxido de carbono em média global sobre os locais de superfície marinha:
Recente média mensal global de CO2. Onde o valor mais recente (fevereiro de 2020) registra 413,22 ppm.
Fonte: https://www.esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/global.html.
Como visto acima, 413,22 ppm é a quantidade de CO2 registrada em fevereiro, enquanto que em 1980, esse valor era de pouco mais de 340 ppm, ou seja, em menos de um século chegamos a registrar quase 80 ppm a mais.
Média mensal global de CO2  registrada entre 1980 e 2020.
Fonte: https://www.esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/global.html.



EVIDÊNCIAS

Segundo o portal do clima da NASA as principais evidências (muitas das quais podem ser confirmadas no artigo feito pela BBC) que comprovam as mudanças climáticas são:

  • Aumento da temperatura global;
  • Oceanos em aquecimento, ;
  • Encolhimento das folhas de gelo;
  • Geleiras estão recuando;
  • Diminuição da cobertura de neve;
  • Elevação do nível do mar;
  • Gelo do mar Ártico em declínio;
  • Eventos recordes de alta temperatura;
  • Acidificação do oceano;
DERRUBANDO O NEGACIONISMO CLIMÁTICO

Um "argumento" que o movimento negacionista aponta é a ocorrência, no contexto paleoclimático passado, de mudanças no nível do mar e clima da Terra, o que para eles legitima como normal o que está ocorrendo. Contudo, há muitas falhas nesse pensamento.

Sim, é um fato a variação vertical no nível do mar nas eras geológicas passadas, muitas das quais com um aumento anual superior ao atual. Mas, ao contrário delas não passamos por um período de deglaciação (onde condições naturais garantiriam essa mudança) e sim por uma maciça emissão de gases do efeito estufa. Mais do que isso, hoje a taxa de aumento do nível do mar cresce com uma grande rapidez e tal velocidade interfere na nossa capacidade de adaptação.

Segundo Carlos Alfredo Joly (biólogo pela USP e PhD em Ecofisiologia Vegetal pela University of Saint Andrews, na Escócia), "no passado geológico o aquecimento e o resfriamento do planeta se deram de forma gradativa no decorrer de milhares de anos, dando tempo para que ao longo de centenas de gerações de plantas e animais os mecanismos do processo evolutivo atuassem. Isto contudo, foi alterado pelo homem, a referência agora são décadas, e há uma discrepância entre a velocidade das mudanças climáticas e a do processo evolutivo".

CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Observar o cenário atual com um olhar crítico  valorizando o conhecimento científico e com a consciência de que os seres humanos e a natureza são uma unidade e, por conseguinte não podem (nem devem) ser fragmentados  é uma característica necessária para superar as "trevas" que ofuscam causas de extrema importância e levam uma parcela da população a negar coisas já comprovadas cientificamente, como é o caso das mudanças climáticas.

Um canal que gosto muito, o Antídoto, contextualizou bem essa questão em um vídeo:



REFÊNCIAS


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1 comentários

  1. Vi um comentário seu em outro blog que tinha o link para esse seu artigo, e resolvi vir dar uma olhada. E, tenho que dizer, não fiquei desapontado. Em um texto curto, você conseguiu me fornecer um extenso instrumental que me ajudará a debater, sempre que a oportunidade surgir, com aqueles que continuam negando as mudanças climáticas, seja por ignorância, seja por má-fé. Parabéns pelo texto, e espero que continue atuando para tentar mudar um pouco a visão dessa sociedade capitalista que ainda ignora tantas coisas a respeito da destruição que estamos causando ao nosso planeta.

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