Setembro amarelo e porque cansei de me esconder [GATILHO]

by - setembro 14, 2021




Blusas de manga comprida, luvas, faixas, ataduras. Eu simplesmente cansei de me esconder atrás de todos esses panos. O que me manteve calada até agora foi principalmente o medo do julgamento dos outros, de passar a ser vista de outra forma pelas pessoas que me admiram, de ser uma derrota (antônimo de Vitória). Porém, continuo  sendo a Vitória que vocês conhecem, exceto por um detalhe: eu me machuco. 

Pratico a autolesão porque sinto a necessidade de me punir por qualquer erro cometido. Tenho dificuldade em lidar com frustrações (estou trabalhando isso na psicoterapia), carrego a vida inteira o fardo de querer ser perfeita, talvez porque assim seria mais fácil as pessoas gostarem de mim. Mas, como todo mortal, não sou perfeita, sei disso.

Desde a infância  percebi que causar lesões no meu corpo alivia a dor emocional que tanto me tortura.  Então eu me batia, arranhava, beliscava, até que evoluiu para cortes. Só descobri que o que eu sofria tinha um nome em 2018, quando iniciei a psicoterapia, até então eu não me "percebia doente".

A notícia boa é que eu não me corto desde o início do ano. Isso significa que a psicoterapia e a medicação me ajudaram a estabilizar esse quadro. Porém, depois desses quase 4 anos de psicoterapia e tendo convivido  com o TOC e a depressão por mais de 10  anos, sei que a todo momento estou suscetível a crises. Não é um olhar pessimista, meu quadro depressivo faz parte da minha personalidade, não tem cura. Mas existe tratamento e o que cabe a mim é insistir nele para aprender a lidar com as minhas crises de modo a reduzir o risco de suicídio.

A autolesão não suicida, também chamada de automutilação é um sintoma de que o indivíduo não está bem. Quando acontece em conjunto com outros comportamentos  e sinais, pode indicar a existência de um transtorno mental. De acordo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais edição 5 (DSM V) "a característica essencial é o comportamento repetido do próprio indivíduo de infligir lesões superficiais, embora dolorosas, a superfície do seu corpo. Em geral o propósito é reduzir emoções negativas como tensão, ansiedade e autocensura, e/ou resolver uma dificuldade interpessoal". Sabendo disso, volto a dizer: caso tenha se identificado com o meu depoimento, procure ajuda profissional, não faça autodiagnostico!

Por fim, só queria deixar registrado aqui um agradecimento a todos que permaneceram ao meu lado até aqui e que junto comigo compraram essa briga. Especialmente a minha mãe que desde o ano passado parou de trabalhar para cuidar de mim (devido o alto risco de suicídio) e a todos os profissionais que usaram o seu conhecimento apenas para garantir que eu continuaria viva, principalmente ao Sávio, psicólogo que há 4 anos me ajuda a entender todo o meu caos interno, e não desiste de me fazer acreditar que mereço viver. Obrigada!




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