Blusas de manga comprida, luvas, faixas, ataduras. Eu simplesmente cansei de me esconder atrás de todos esses panos. O que me manteve calada até agora foi principalmente o medo do julgamento dos outros, de passar a ser vista de outra forma pelas pessoas que me admiram, de ser uma derrota (antônimo de Vitória). Porém, continuo sendo a Vitória que vocês conhecem, exceto por um detalhe: eu me machuco.
Pratico a autolesão porque sinto a necessidade de me punir por qualquer erro cometido. Tenho dificuldade em lidar com frustrações (estou trabalhando isso na psicoterapia), carrego a vida inteira o fardo de querer ser perfeita, talvez porque assim seria mais fácil as pessoas gostarem de mim. Mas, como todo mortal, não sou perfeita, sei disso.
Desde a infância percebi que causar lesões no meu corpo alivia a dor emocional que tanto me tortura. Então eu me batia, arranhava, beliscava, até que evoluiu para cortes. Só descobri que o que eu sofria tinha um nome em 2018, quando iniciei a psicoterapia, até então eu não me "percebia doente".
A notÃcia boa é que eu não me corto desde o inÃcio do ano. Isso significa que a psicoterapia e a medicação me ajudaram a estabilizar esse quadro. Porém, depois desses quase 4 anos de psicoterapia e tendo convivido com o TOC e a depressão por mais de 10 anos, sei que a todo momento estou suscetÃvel a crises. Não é um olhar pessimista, meu quadro depressivo faz parte da minha personalidade, não tem cura. Mas existe tratamento e o que cabe a mim é insistir nele para aprender a lidar com as minhas crises de modo a reduzir o risco de suicÃdio.
A autolesão não suicida, também chamada de automutilação é um sintoma de que o indivÃduo não está bem. Quando acontece em conjunto com outros comportamentos e sinais, pode indicar a existência de um transtorno mental. De acordo o Manual Diagnóstico e EstatÃstico de Transtornos Mentais edição 5 (DSM V) "a caracterÃstica essencial é o comportamento repetido do próprio indivÃduo de infligir lesões superficiais, embora dolorosas, a superfÃcie do seu corpo. Em geral o propósito é reduzir emoções negativas como tensão, ansiedade e autocensura, e/ou resolver uma dificuldade interpessoal". Sabendo disso, volto a dizer: caso tenha se identificado com o meu depoimento, procure ajuda profissional, não faça autodiagnostico!
Por fim, só queria deixar registrado aqui um agradecimento a todos que permaneceram ao meu lado até aqui e que junto comigo compraram essa briga. Especialmente a minha mãe que desde o ano passado parou de trabalhar para cuidar de mim (devido o alto risco de suicÃdio) e a todos os profissionais que usaram o seu conhecimento apenas para garantir que eu continuaria viva, principalmente ao Sávio, psicólogo que há 4 anos me ajuda a entender todo o meu caos interno, e não desiste de me fazer acreditar que mereço viver. Obrigada!