O TOC provavelmente não é o que você pensa

by - janeiro 15, 2021

Todos, de alguma forma, já ouviram ou usaram o acrônimo "TOC", porém em grande parte dos casos o uso foi incorreto de modo (intencional ou não) a banalizar e romantizar esse distúrbio. O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) tem como características principais a presença de obsessões (são pensamentos, imagens ou impulsos recorrentes que ocorrem de formas invasiva e indesejada) e/ou compulsões ("comportamentos repetitivos ou atos mentais que um indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente.").

Ao contrário do imaginário popular o TOC não é uma coisa simples e inofensiva. Gostar de lavar as mãos antes das refeições, ter manias de organização, prezar por simetria, separar as coisas por cores ou tamanhos  não significam que você tem o transtorno, a coisa é muito mais complexa que isso e eu agradeceria se parassem de brincar com algo sério. É importante destacar que o TOC causa sofrimento e não é voluntário. Ainda segundo o DSM-5, cerca de 50% dos indivíduos com o Transtorno Obsessivo Compulsivo apresentam ideação suicida e 1/4 efetivamente chega a tentar suicídio, ou seja, é extremamente grave.

No livro "Uma história de amor e TOC" (recomendo), são apresentados alguns casos de como o transtorno se manifesta. Para exemplificar e mostrar na prática que o TOC provavelmente não é o que você pensa irei apresentar dois personagens da obra: um deles possui como compulsão o ato de lavar as mãos exageradamente (passava horas no banheiro fazendo isso) até que elas começaram a despelar e malhar também de forma exagerada (passava mais de 8 horas na academia se exercitando). Sua estrutura física, o impulso mental de contar e fazer sempre tudo 8 vezes, e o comportamento de limpeza acabavam gerando um sentimento de repugnância e medo nas pessoas tanto é que ele não tinha amigos. Outro caso é o de uma garota que não conseguia dirigir a uma velocidade superior a 30km/h (compulsão) devido ao medo de atropelar alguém (obsessão) e com isso sempre que ela passava por uma criança (mesmo que esta estivesse na calçada) ou um cachorro, voltava várias vezes para conferir se os tinha atropelado, além de ter que parar em muitos momentos durante o trajeto a fim de conferir se não tinha alguém enganchado no carro ou alguma marca que indicasse que ela tinha atropelado alguém. 

Como sabem, eu sou uma admiradora da psicologia, mas não é apenas por esse motivo que escolhi falar sobre o distúrbio, há um mês minha psiquiatra me diagnosticou com TOC e a melhor forma de garantir que um transtorno não será minimizado é a informação. Em mim, essa disfunção se manifesta de diversas formas, mas não me sinto confortável ainda para falar sobre as mais pesadas. Uma das compulsões que sofro é a de limpeza, por exemplo, sempre antes de tocar em um dos meus livros eu preciso lavar as mãos 3 vezes e se eu tocar em algo no meio do caminho (qualquer coisa, até a maçaneta da porta), preciso voltar e repetir o processo. Isso interfere na minha vida, no último ano eu li pouquíssimos livros, estava diminuindo o meu prazer pela leitura e ler é uma das coisas que mais amo (isso sim, meus queridos, é TOC) e vai um pouco além, ao lavar as mão antes de qualquer refeição (esse ritual também se repetia) eu acabo usando o cotovelo ou o braço, em vez das mãos para pegar ou manusear algo. Além disso, sofro obsessões sobre coisas ruins que poderia fazer (como jogar o carro na frente de um caminhão, falar coisas absurdas a alguma autoridade, despir-me na frente de várias pessoas, tudo isso de forma involuntária) e imagens de situações tão pesadas que tenho o impulso de tampar os ouvidos e gritar comigo para parar, calar a boca e isso me leva a compulsões que não quero descrever aqui.

Como viram, o transtorno Obsessivo Compulsivo vai muito além de ter manias. Por fim, caso tenha se identificado com algo que foi descrito aqui, procure um profissional da área, não faça autodiagnóstico.  



Veja essa imagem em: iStock | Detalhes da licença
Criador: elenabs Crédito: Getty Images/iStockphoto


You May Also Like

1 comentários

  1. Me chamo Rafael, tenho 21 anos e recentemente fui diagnosticado com TOC e transtorno de escoriações (TE). Apesar do diagnóstico recente, venho praticando o "skin picking" desde os 14 anos. Certa vez ouvi de uma psicóloga que eu jamais seria curado porque esses transtornos fazem parte de quem eu sou. Fiquei extremamente incomodado com essa fala e fui atrás de outra terapeuta, e hoje entendo que nenhum quadro clínico ou psicológico, ou quaquer traço da minha personalidade isoladamente constitui quem eu sou. Somos todos uma totalidade e por isso admiro pessoas como você que se permitem "ser mais", se interessar por psicologia, matemática e sustentabilidade... será uma GA excelente! Foi uma narrativa rica, acolhedora e incisiva, me motivou a brincar menos com a expressao "tenho TOC" e a me levar mais a sério... ganhou um leitor!

    ResponderExcluir