A questão ambiental está interligada a social

by - abril 15, 2020


O crescimento populacional desordenado gerou vários problemas não apenas no campo ambiental, mas também, no funcionamento da sociedade em si. Nesse sentido, alguns indivíduos foram e ainda são forçados a viver, trabalhar e consumir em condições ambientais insalubres. Desse modo, há um consenso social responsável por destituir da condição de cidadão uma parcela da população brasileira (menos abastada), e fundamentar os impactos socioambientais em toda a sua cadeia de exploração.

A princípio, um pensamento etnocêntrico coloca em lados opostos tanto pessoas como regiões com menores e maiores condições financeiras, sobre as quais tal realidade legitima o abuso dos recursos naturais. Por conseguinte, o diferente é visto como o outro, um ser inferior e sem direitos, de modo a permitir apropriação do espaço que ocupa e a degradação desse meio, pregado pelos detentores de maior poder, como de ninguém (SANTOS, 2007). Assim, uma linha abissal separa os países, bairros e estados subdesenvolvidos (geralmente com legislação mais flexível), nos quais o despejo de resíduos e a contaminação (seja do solo, água ou ar), por ocorrer em área marginalizada, são aceitáveis.   

 Outrossim, distorções baseadas nas diferenças contribuem para que a cidadania do homem passe a ser incompleta. Essa situação é exemplificada pelo documentário “Ken Saro-Wiwa, Presente!”, que narra o conflito da instalação de uma empresa petrolífera na Nigéria. Em consequência dessa atividade e das inexistentes medidas de reparação ambiental, a população local passa a sofrer com a perda de sua biodiversidade (fonte de renda para os moradores), doenças, contaminação da água e ameaças do poder público.

Além disso, fragmentar o estudo desse problema entre social e natural, como se humanidade e natureza fossem campos contrários, sem ligação, limita a análise das implicações fortalecidas pela desigualdade. Porquanto, não é possível pensar o contexto da atual crise ambiental sem o entendimento de que o crescimento da pobreza e a degradação dos recursos (bióticos e abióticos) estão intimamente interligados (LAURENT, 2009). Portanto, com muita frequência a situação de carência das necessidades humanas está associada ou é causada pela degradação ambiental. 

Diante desse panorama, é possível notar a importância da aplicação e elaboração de políticas públicas voltadas para diminuição da desigualdade e estereótipo colonial associado à inferioridade de povos, a fim de também retardar a degradação da biodiversidade. Fortalecer as camadas financeiramente fragilizadas é uma forma de lutar contra a injustiça social e em prol de condições que permitam o desenvolvimento das atuais e futuras gerações. Dessa forma, pensar em um desenvolvimento sustentável e limitação de impactos socioambientais, torna-se mais palpável de ser alcançado, quando o meio ambiente e a erradicação das desigualdades são tratados como pontos de igual relevância para toda a sociedade.   


REFERÊNCIAS
LAURENT, Catherine. Desigualdades sociais, pobreza e desenvolvimento sustentável: Novas questões relacionadas aos modelos de conhecimento que fundamentam a ação política. Política e sociedade nº 14, abr. 2009. Pág. 145-177.
SANTOS, Boaventura Souza. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Revista Crítica de Ciências Sociais, ed. 78. 2007. Pág. 3-46. 
























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