Me olho no espelho procurando por alguma pista, mas estou aparentemente intacta. De onde vem esse vazio? A estranha sensação de que falta algo em mim, capaz de tornar tudo ao redor na mais absoluta banalidade, pura repetição de atos sem sentido. Há tempos nada me empolga e até as conversas com as pessoas me enchem a paciência.
O engraçado é que a gente pensa que as coisas vão melhorar quando começar ou acabar uma etapa de nossas vidas, é a eterna ilusão do "felizes para sempre". As coisas não melhoram automaticamente só porque entramos na universidade, começamos o emprego dos sonhos, compramos uma casa ou finalmente obtemos o divórcio. As confusões se autoalimentam e cada novo começo ou fim vem acompanhando por seus problemas. Percebi que não existe nenhum estado perfeito e almejar a perfeição é um contrato para se frustrar.
Olhando de fora, só a superfície, parece tudo tão bonito. Sinto-me egoísta diante desse deslumbramento principalmente ao afirmar que sou constantemente invadida por uma dor psicológica infernal e o impulso pelo suicídio.
Olho para o que sou agora e paradoxalmente não consigo me identificar com o que vejo, é como se uma estranha ocupasse esse corpo, o meu corpo. Foi justamente a graduação (período que sempre sonhei e idealizei) que evidenciou isso: estudar não me encanta, não tenho mais prazer nisso, logo o conhecimento que sempre foi minha maior paixão.
A grande questão é que boa parte do tempo não tenho vontade de me dedicar ao curso, ler os textos ou livros relacionados a área. Nem de acordar cedo para ir enfrentar as horas no trânsito, passar o dia inteiro no campus me dedicando ao estudo das disciplinas como eu fazia, assistir palestras de especialista e eventos de gestão ambiental. Sinto como se algo tivesse quebrado dentro de mim e o que me angustia é não saber se o problema é meu curso ou sou eu mesmo.