A solidão dos números primos (resenha do livro)

by - fevereiro 03, 2020



O livro conta a história de dois amigos (Alice e Mattia), por intermédio de narrativas que caracterizam a vida deles desde a infância até a idade adulta. Seu nome é uma analogia a uma propriedade matemática dos números primos, a qual define números divisíveis por 1 e si mesmos que compartilham uma solidão: a diferença ente eles é igual a 2 e portanto, apenas um número par os separam, a exemplo de 5 e 7, 11 e 13, 17 e 19. Desse modo, existem perto um do outro mas não o suficiente para se tocarem, assim como os personagens principais dessa história.

Tudo se inicia com acontecimentos da infância, responsáveis por mudarem definitivamente a vida de cada um. Nessa época os dois não se conheciam ainda, mas suas fragilidades traçavam um caminho para uni-los. Aos nove anos Alice se vê infeliz ao ter que praticar esqui, um esporte que odeia, apenas para satisfazer a vontade de seu pai. Porém, esquiando em um dia preenchido pela neblina, ela sofre um acidente que lesiona sua perna esquerda, deixando-a deformada. A garota, por conseguinte, fica marcada com uma cicatriz que simboliza a alteração do relacionamento com o pai, seu corpo e a sociedade.

Mattia, por outro lado, possui uma exigência familiar diferente. Desde cedo manifestou uma grande facilidade de aprendizagem, ao contrário de sua irmã gêmea Michela, a qual nasceu com uma deficiência intelectual. As dificuldades dela não eram acolhidas pelas outras criança, o que tornavam os dois irmãos alvos de preconceito. Por esse motivo eles nunca eram convidados para nada. Todavia, ao serem pela primeira vez convidados para uma festa de aniversário, o garoto decide ir sozinho. Ele tem a ideia de deixar sua irmã sentada na praça que fazia parte do percurso, enquanto ocorre a festa. Contudo, ao voltar para buscá-la, não a encontra nunca mais. Isso leva-o a criar um grande sentimento de culpa.

Alguns anos passam e eles entram na adolescência com conflitos internos que os levam a desenvolver transtornos. Alice sofre com anorexia e Mattia, autolesão não suicida (seu comportamento disfuncional teve início no dia que sua irmã desapareceu), cada um com seus fantasmas internos que os conduzem a solidão. Porém, assumem posições diferentes, ela se esforça para se encaixar no mundo, enquanto ele tenta se isolar do mundo. Ironicamente, acabam se conhecendo e a partir desse momento tornam-se amigos unidos pelas cicatrizes e inseguranças que possuem.

O que mais me encantou nessa narrativa foi a facilidade do autor de aproximar o leitor do conflito, a forma crua como tudo é contado lembra quão real e próxima a obra é. Senti estar dentro da história compartilhando com os personagens as angústias, receios, sentimentos de inadequação e solidão. Tudo isso ao mesmo tempo em que transmite um ar de veracidade, responsável por ora questionar o impacto de nossas ações e escolhas na vida, ora aceitar as consequências.

Acredito, acima de tudo, ser essa história objeto de reflexão sobre até que ponto questões que ocorrem enquanto ainda somos crianças, moldam o padrão mental e de comportamento adotados durante as próximas etapas etárias. A forma particular como cada um lida com eventos traumáticos e o peso disso na qualidade de vida, pois o que todos procuram no fundo direta ou indiretamente é a felicidade.

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