Vive-se no cenário atual uma emergente crise climática, cujo ônus não é dividido de forma democrática. A população pobre encontra-se em estado de vulnerabilidade sujeita a maiores riscos e incertezas. Nesse sentido, é necessário se pensar no espaço urbano como elemento por onde se mediam e são consumadas essas desigualdades, para que desta forma, medidas adaptativas sejam tomadas com o foco em reduzir as vulnerabilidades as quais estão expostos os indivÃduos menos abastados. Assim, para alcançar tal objetivo, torna-se necessária a atenção dos governos locais quanto a problemática das mudanças climáticas.
A ocorrência de eventos climáticos extremos cada vez mais comuns, chamam a atenção para a importância de reestruturar não só o sistema de consumo que degrada, explora e reduz os recursos naturais, mas também como as populações administram e estruturam os seus espaços. Seguindo esse raciocÃnio, Lemos no artigo "Planejamento urbano para enfrentamento de riscos ambientais, redução de vulnerabilidade socio-climáticas e adaptação de cidades", afirma que os elementos que compõem a sociedade contemporânea, juntamente com a crise socioambiental exigem a reformulação do planejamento e projeto urbano, definindo e dando atenção as prioridades: populações mais vulneráveis. Aqui, cabe a importância de se definir a palavra vulnerabilidade, a qual se refere a capacidade de resiliência de populações e sistemas em frente a perturbações e crises, ou seja, pessoas vulneráveis são aquelas que convivem com a insegurança de não terem recursos adaptativos que proporcionem a plena recuperação diante de tais choques, de acordo com a obra "Uma revisão crÃtica sobre cidades e mudança climática: vinho velho em garrafa nova ou um novo paradigma de ação para a governança local?" de Martins. São justamente os indivÃduos com menores condições financeiras que estão mais vulneráveis as consequências da crise climática por morarem e circularem em ambientes insalubres, muitas vezes por não terem outra opção.
Ademais, ao se falar de medidas adaptativas no espaço urbano, é imprescindÃvel mencionar e relacionar o papel dos governos locais na gestão eficiente da infraestrutura e dos serviços públicos de bem-estar. Em relação a isso, Martins (na obra citada acima) ressalta o poder desses agentes públicos em mitigar desde a emissão de gases do efeito estufa (GEE) até a vulnerabilidade da sua população. O autor continua seu pensamento chamando a atenção a necessidade de sensibilidade governamental aos cidadãos que vivem sob maior risco (abrangendo não apenas os que moram em locais com risco ambiental, mas também os que se encontram em situação de rua, pois a vulnerabilidade urbana brasileira possui vários contornos). Assim, governos locais por estarem mais próximos de onde ocorrem e ocorrerão os impactos das mudanças climáticas são de extrema importância na implementação de polÃticas relativas a essa questão que visem a adaptação e mitigação.
Destarte, uma abordagem multidisciplinar focada na redução das vulnerabilidades com o apoio dos governos locais e vários outros atores (como a própria população) são fundamentais para criação de polÃticas públicas que proporcionem resiliência frente as crises e riscos que acompanham as mudanças climáticas. Quiçá, a infraestrutura urbana e consequentemente a sociedade, irá adquirir maior resistência quanto ao enfrentamento das crises, riscos e vulnerabilidades que assolam e limitam paÃses como o Brasil.
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Glossário (dicionário) de termos:
Destarte: assim, desta forma.
Ademais: além disso.
Abastados: ricos.
Mitigação: aliviar, reduzir, diminuir.
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