O custo do vício digital

by - setembro 26, 2020


Entre o acervo de filmes disponíveis na 9º mostra da Ecofalante, um em especial chamou a minha atenção: “O custo do vício digital”. Geralmente o Vale do Silício é tratado pela mídia como um exemplo de desenvolvimento tecnológico, contudo o documentário mostrou o lado obscuro. Os componentes da fabricação de computadores no final do século XX causou uma série de contaminações existentes até hoje: em um bairro residencial próximo, todos os moradores tiveram câncer devido a contaminação do solo e do lençol freático. Nos trabalhadores dessas empresas as consequências não foram diferentes, uma moça que engravidou durante o período do trabalho, cuja função consistia em manipular substâncias radioativas sem saber (porque a empresa não explicava a procedência do material) relata os problemas de desenvolvimento que seu filho teve (nasceu com uma série de deficiências, inclusive mental). A ironia é que com a expansão desses casos e a dinâmica do capitalismo, as grandes empresas de tecnologia, como a apple, espalharam em países menos desenvolvidos a matriz de produção. Isso me fez lembrar do documentário “Ken Saro-Wiwa, presente!”, pois em ambos degradar, poluir e explorar o território do outro (por ser menos abastado) é legítimo e aceitável, enquanto que o deles deve ser poupado e protegido por uma legislação mais rígida.

Além disso, a China é mostrada como uma das maiores indústrias produtoras de eletrônicos. Os benefícios disso, todavia, se concentram apenas nos ganhos financeiros dos patrões e governantes, enquanto que os empregados são obrigados a aguentar péssimas condições de trabalho com jornadas exaustivas, recebendo um pequeno salário. Tais condições são refletidas nas altas taxas de suicídio, consumado dentro até da própria empresa. Por fim, há o total despejo de poluentes químicos nos rios e o descarte incorreto de materiais radioativos que colocam em risco a vida de milhares de famílias pobres de catadores, as quais vivem em meio a todos esses resíduos. 

O que mais me choca nisso tudo é a total alienação de muitos consumidores que sem o menor interesse na perversidade ambiental e social da cadeia produtiva de equipamentos tecnológicos, consomem exageradamente e trocam seus aparelhos em curtos períodos de tempo, sem nem tentar prolongar a vida útil deles. Seriam essas pessoas tão culpadas quanto os empresários que permitem a poluição? E você? Não acha que está na hora de repensar o seu consumo?

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